Eu engano

>> 4 de agosto de 2009

A gente teve um diálogo incrível, e depois ela disse que sempre se identificara com meus óculos. E eu respondi:

- Sempre me identifiquei com seu não levantar de voz.
Ela não entendeu, e eu disse que faltava aquilo nas pessoas, às vezes.
Conversar com ela me dava uma calma muito grande, e às vezes eu até me sentia escorregar pra um conto bonito do Caio. Me sentia escorregar pra fora da vida.

Nas festas eu sempre gostei de desaparecer. Sair de fininho, torcendo pra ninguém notar minha ausência.
Depois, a custo, aprendi que antes que não te notem a ausência, é preciso também que não notem sua presença. Então, me especializei nisso também.
Aprendi a falar baixo, a não opinar, a não me exaltar, abstrair e a fingir.
A fingir eu aprendi tão bem, que a certo ponto, quis ganhar um reconhecimento de melhor fingimento. Então me aconteceu essa coisa engraçada de ter que aprender a mostrar que eu tô fingindo, quando quero reconhecimento.
Complicado, né?
Algumas pessoas chamam isso de sinceridade. Outras chamam de mentira.
Eu chamo de cansaço da exposição.
Ganhei tal gosto pela enganação que me agrada muito perceber que a pessoa não me conhece e que está sempre errada sobre mim.
-Vamos lá, eu finjo que não! & -Pode me bater, eu sangro.
Mas ninguém te bate quando você quer apanhar.
Não há, nunca, reconhecimento pelo seu sofrimento calado. Nem mérito pelos 10 segundos que você consegue contar, antes de mostrar seu verdadeiro, e horrível, eu pra alguém.
Drama só é bom mesmo nos contos do Caio. Se você não botar um sorriso na cara e não quiser se divertir o tempo todo nesta vida, fodeuobrasil.
Mas então, eu tive essa conversa incrível com ela. E me identifiquei com aquele não levantar de voz, e ela se identificou com meus óculos.
E eu senti naquela voz baixa o reconhecimento.
Não apenas o "tô errada sobre você", que aliás, nem era o caso. Porque em certos pontos ela acertava em cheio. Mas sim o "já percebi que você tenta enganar, parabéns".

Obrigada.

[para minha colega de textos, Cecília,
que várias vezes escreveu o que eu queria
mas que não conseguiria]

4-5/08/2009
Nah Safo

3 Junte-se:

Nah Safo 4 de agosto de 2009 às 20:07  

também uma desculpa, pelo café que eu vou furar amanhã.

LG, o eletrodoméstico 5 de agosto de 2009 às 19:56  

Tive uma sensação incrivelmente gostosa a ler este.

Preciso conhecer-te, já querida colega de blog.

Floresta me disse que gostarei de ti. Dito e feito, já gosto e aguardo com gosto um abraço gostoso desta escritora de sensações.

ps: se num outro salvei teu sábado, digo que neste salvou minha quarta. Obrigado.

Cecília Floresta 6 de agosto de 2009 às 06:13  

Uma das melhores coisas que já li em vida:

"Não há, nunca, reconhecimento pelo seu sofrimento calado. Nem mérito pelos 10 segundos que você consegue contar, antes de mostrar seu verdadeiro, e horrível, eu pra alguém."

Safo me arrancou o primeiro sorriso do dia e garantiu material pra outros tantos, durante.

Pra não dizer que não falei das flores, é quase impossível descrever o que senti, ao ler o texto. Sei que minha cabeça ficou leve e meus braços pesados, como se tivesse fumado aquele primeiro cigarro do dia.

Agradeço eu, minha cara.

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